APCA lembra as "eternas esquecidas" zonas húmidas minhotas


A Associação de Protecção e Conservação do Ambiente – APCA, no Dia Mundial das Zonas Húmidas fez uma pequena análise da situação em que se encontram as zonas húmidas no Minho, de forma a alertar a população em geral, para a importância destes espaços naturais e os serviços de ecossistemas que prestam.


As zonas húmidas são ecossistemas de transição entre ambientes aquáticos e terrestres contribuindo de forma muito significativa para o controlo de inundações, como faixas amortecedoras e de retenção de águas excedentárias, desempenhando, ainda, um papel importante na estabilização da costa e na defesa e protecção contra as tempestades, para além de terem um papel de mitigação dos efeitos decorrentes das alterações climáticas. Constituem, ainda, um habitat fundamental para um conjunto muito diversificado de espécies animais e vegetais, entre as quais diversas espécies ameaçadas, sendo excelentes habitats como áreas de alimentação, repouso, abrigo, reprodução e invernada de aves migradoras e residentes. Salienta-se, ainda, o facto de apesar de ocuparem apenas 2% do conjunto dos continentes, serem verdadeiras maternidades da vida terrestre, aquática e aérea e responsáveis por mais de dois terços do peixe pescado na Terra.
No contexto europeu e em concreto do noroeste ibérico, a região minhota, possui um conjunto muito significativo de zonas húmidas de que salientamos pela sua dimensão e importância, a Zona Húmida de Arão (Valença), que após uma luta muito árdua na década de oitenta foi possível salvaguardar, aquando da construção do IC1; a Zona Húmida do Estuário do Minho / Sapal do Coura (Caminha), que parecendo conhecer melhores dias, depois das extracções, aterros e despejo de resíduos a que foi sujeita, se vê de novo ameaçada por construções; Zona Húmida do Sapal do Âncora (Vila Praia de Âncora), presentemente ameaçada, pela eventual rotura das Dunas dos Caldeirões e as alterações na hidrodinâmica costeira decorrentes da construção do porto de mar; Zona Húmida da Foz do rio de Afife (Afife), degradada com resíduos da construção civil e ameaçada de novo por um projecto de urbanização com quarenta anos; Zona Húmida do Bico (Afife), uma das zonas húmidas costeiras mais bem conservadas do noroeste ibérico, mas sobre a qual pende um projecto de urbanização à longos anos, que o bom senso tem evitado, mas que recentemente parece ter ressuscitado; Zona Húmida das Lagoas de Bertiandos (Ponte de Lima), que parece ter encontrado o rumo certo, após muitas indefinições; Zona Húmida da Veiga de S. Simão (Viana do Castelo), cujos juncais, esteiros e salgados a transformam numa das zonas mais importantes da Europa, com este género de características, tardando, porém, a protecção e valorização deste espaço, progressivamente adiada, apesar das promessas com mais de uma década; Zona Húmida de Portuzelo (Viana do Castelo), pouco a pouco tem sido aterrada, com o objectivo de urbanizarem, perante o alheamento de quem de direito; Zona Húmida do Sapal da Meadela (Viana do Castelo), a eterna esquecida e depósito de lixo, que inexplicavelmente o Programa VianaPólis não incluiu, por eventualmente não ser urbanizável; Zona Húmida das Azenhas do Prior (Viana do Castelo), destruída nas suas funções naturais para instalar um “Parque da Cidade” e depois um “Parque Ecológico”, que se espera que não seja uma forma expedita de urbanizar este espaço natural, que ao longo de décadas resistiu ao apetite voraz do betão; Zona Húmida de S. Lourenço (Darque), um extraordinário sapal que tem resistido ao apetite imobiliário e portuário, mas que começa a ser visto como um “empecilho”; Zona Húmida do Rodanho (Vila Nova de Anha), uma verdadeira relíquia da evolução de uma laguna costeira e a Zona Húmida da Foz do Cávado (Esposende), que pouco a pouco tem sido aterrada com o argumento de correcção do leito do rio e obtenção de novas áreas para expansão urbana.
No Dia Mundial das Zonas Húmidas, em que apenas neste dia alguns se lembram delas, este é o retrato das zonas húmidas minhotas, cujo valor natural, económico e cultural é difícil de quantificar face aos serviços que prestam, sendo porventura das áreas naturais mais importantes do Minho, mas que salvo raras excepções, são na verdade as eternas esquecidas, apesar da sua relevância como motores primários da economia regional.

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